quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O QUE PAULO DIRIA SOBRE O CINEMA NOS DIAS ATUAIS


Há alguns anos atrás o cinema era rotulado como um local onde os namorados gostavam de se encontrar para trocar carícias. O ambiente escuro e confortável era ideal para servir de “namoródromo”. Você já deve ter ouvido falar sobre os “lanterninhas” que ficavam a procura desses casais apaixonados.
Hoje o cinema é visto de uma forma mais abrangente, como mais uma opção de lazer da cidade moderna onde não somente namorados freqüentam, mas famílias, crianças, etc.
Como jovem adventista sempre aprendi que ir ao cinema era desaconselhável. O grande problema estava nos argumentos usados, que em vez de se embasarem na Bíblia, eram fundamentados em questões sócio-culturais e até tecnológicas, como pretendo mostrar adiante.
Esse artigo tem por objetivo refletir em alguns pontos sobre a presença de um cristão no cinema e prover argumentação bíblica para a questão, ajudando aos líderes a explicar os motivos que levam a nossa igreja a desaconselhar a freqüência neste local.

Argumentos Comumente Usados Contra a Freqüência ao Cinema
1- Argumentação acerca do local: Este argumento afirma que o local é pecaminoso, conseqüentemente inadequado para um cristão.
O espaço físico do cinema em si não é o problema, pois tal espaço é amplamente usado nos dias de hoje para finalidades sacras e educativas, como cultos, congressos, encontros, palestras, etc. É um ambiente agradável, confortável e limpo. É válido lembrar que muitas denominações estão comprando o espaço físico do cinema e transformando em igrejas, por causa de sua infra-estrutura.
Desta forma, falar que o ambiente físico do cinema é o problema não faz muito sentido, uma vez que ele pode ser usado para finalidades educativas e religiosas. O que determina se um local é pecaminoso não é seu nome, mas sua finalidade.
2- Argumentação acerca do ambiente e a tecnologia: A afirmação de que o ambiente é escuro e a atenção é direcionada somente ao telão.
Essa mesma técnica é usada na igreja para exibir um filme bíblico, uma projeção, etc. Com o desenvolvimento tecnológico, muitos lares já dispõem de projetores de vídeos, sistemas de áudio e vídeo (semelhante ao do cinema - Home Theatre Systems) tornando um cômodo da casa em um pequeno “cinema”. Dessa forma, não é o meio de comunicação áudio-visual, o tipo de aparelho de projeção ou a iluminação que torna o ambiente pecaminoso, mas o conteúdo que será exibido. Por que exibir o filme de Moisés num projetor e com as luzes apagadas num local que esteja escrito IGREJA é lícito, mas o mesmo filme exibido da mesma forma em outro local escrito CINEMA é errado? Foi divulgado na Revista Veja (abril, 2004) que muitas igrejas alugaram cinemas para que seus membros assistissem ao filme “A Paixão de Cristo”, mostrando que até o público pode ser o mesmo nos dois locais: igreja e cinema.
É dito ainda que em casa você pode desligar o aparelho de televisão, se a cena ou o filme é impróprio. Mas uma pessoa está proibida de sair do cinema se não estiver satisfeita com o filme?
3- Argumentação acerca do filme em exibição: Os filmes são inapropriados para um cristão.
Sobre a qualidade do filme a ser exibido, é verdade que a maioria dos filmes não são indicados para cristãos. Por outro lado, há filmes bons e inspiradores, religiosos ou não. Sendo assim, não é o filme em si mesmo o pecado, mas a sua mensagem, sua moralidade e seus objetivos. Lembrando mais uma vez que a maioria dos filmes são inapropriados, pois são imorais, infundados, irreais, espiritualistas, violentos e ateus. Sendo assim, esse argumento não consegue, da mesma forma, desaconselhar a freqüência ao cinema.
Diante dos comentários acima, como explicar para um cristão que o Cinema é desaconselhável? Como argumentar com os jovens que são bombardeados e influenciados por uma sociedade liberal e possuem informações semelhantes às citadas acima para freqüentarem livremente o Cinema?
A Bíblia tem a resposta, e se ela fosse usada antes dos argumentos culturais ou “racionais”, talvez não houvesse tanta discórdia neste assunto.
Argumentos Bíblicos
Em I Cor.10 :23-33 Paulo nos deixou alguns princípios para lidarmos com situações polêmicas como essa. Vamos abordá-los seguindo a própria Bíblia, usando a questão das carnes sacrificadas a ídolos como base.
1 – Tudo é lícito, mas nem tudo convém.
Em I Cor. 10:23 diz que todas as coisas me são lícitas. Nos versos 25 a 27 está escrito que não há nenhum problema em se comer carne sacrificada a ídolos.
Naquele tempo muitos pagãos ofereciam animais aos seus deuses. Depois de morto, os animais eram levados para o mercado e sua carne vendida normalmente.
O grande problema era que alguns cristãos, que no passado faziam esses sacrifícios (ver ICor. 8:7), e agora estavam convertidos, achavam que comer a carne daqueles animais era pecado, pois eles foram oferecidos a outros deuses. Para aqueles que nunca foram pagãos, não havia nenhum problema, era um animal como o outro e não acreditavam em outros deuses.
Para resolver o problema, Paulo escreveu:

“Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência; porque do Senhor é a Terra e a Sua Plenitude. Se algum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência” (ICor. 10:25 a 27).

Paulo afirmou que tudo é de Deus, ou seja, não existem outros deuses. Em ICor. 8:4 a 6 ele reforça essa idéia. Então, o ato de comer aquela carne sacrificada em si não era pecado. Eles poderiam comer até na casa dos pagãos essas carnes.
Porém, Paulo que disse que tudo é lícito, disse também que “nem tudo convém” (ver ICor. 10:23). No verso 28, Paulo adverte que se alguém falasse que aquela carne era sacrificada, já não poderiam mais comer, por causa da consciência alheia (v. 29).
Podemos aplicar os princípios mencionados ao cinema. O problema não está no Cinema, nem talvez no enredo do filme, ou ambiente, mas na consciência alheia. Tudo o que fere ao nosso próximo, deve ser evitado. Muitos que no passado tiveram o cinema como um local pecaminoso não conseguem assimilar um cristão indo a esse local, e segundo Paulo, devem ser respeitados.
2 – Argumentação sobre não servir de escândalo ao próximo.
“Não vos torneis causa de tropeço nem para os judeus, nem para os gentios, nem tampouco para a igreja de Deus , assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos” (ICor. 10:32 e 33).
Em I Cor. 8:11-13 Paulo orienta a deixar de fazer tudo aquilo que fere a mente de um irmão que têm essas dificuldades, e mesmo não havendo nenhum problema, se torna pecado contra Cristo.
Paulo é enfático quando ele afirma que se comer carne sacrificada (que não tem nenhum problema em si) fere alguém, deve ser radicalmente deixada de lado.

Note: “Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos” (ICor. 8:9).

O cinema pode ser facilmente comparado com a questão das carnes sacrificadas. Aqueles que são mais esclarecidos devem pensar que a nossa liberdade não deve ferir aqueles que foram salvos por Jesus, e isso é pecado. “E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais” (ICor. 8:12).
Quando o cinema agride a consciência de um irmão, mesmo não sendo pecaminoso em si o local, se torna pecado contra ao próximo e contra Deus.
3- Seguir o exemplo de Jesus.
Será que devemos nos limitar por causa da mente fraca de outras pessoas?
Para aqueles que querem seguir o exemplo de Jesus a resposta é sim. Jesus se limitou para nos salvar e “a si mesmo se esvaziou, assumindo forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fil. 2:7 e 8).
Cristo viveu e morreu em função dos outros. Cabe a nós, como seus seguidores, imitá-Lo em tudo.

Conclusão
O cinema pode muito bem ser comparado com as carnes sacrificadas a ídolos, que poderia ser ou não pecado dependendo da consciência alheia. A pergunta é: ir ao cinema fere a mente de algum irmão(ã) da igreja?
Cabe a cada cristão julgar o fato em oração para que Deus seja glorificado, e Sua vontade prevaleça sobre a nossa. Creio que a Igreja Adventista é dirigida por Deus e por ela Ele revela a Sua vontade, e se ela me orienta a não freqüentar o cinema, é nosso dever obedecer-lha.
“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (ICor. 10:31).


Por: Pr. Yuri Ravem (Mestre em Teologia e Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia)

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